terça-feira, 23 de setembro de 2014

Comentário pessoal sobre o livro "Pavão bizarro", de Emmanuel Santiago


Originalmente publicado aqui.

Amigo, Emmanuel Santiago, como falar o que eu tenho para lhe dizer? Estou me sentido na canção José, de Caetano Veloso: assim mesmo, no fundo do poço, com meu grito lixando o céu seco. De verdade, não conhecia o seu trabalho, antes de ler o seu livro, mas consegui, ontem, terminar de lê-lo, e até agora estou sem saber o que dizer, pois quero dizer tantas coisas, mas não consigo escolher as palavras.

Quero lhe dizer que estou muito bravo com “vossa senhoria”, porque as plumas do seu Pavão Bizarro encobriram o livro que eu pretendia resenhar e que não vou mais, por ora, por sua causa! Estou num frenesi absurdo que me provoca a escrever sobre outra coisa, agora. Seu pavão me mutilou, me deixou na sarjeta.

Quero te xingar pelo seu “Soneto Piedoso”, falar mal da sua ousadia pelo seu “Soneto Branco”, ou como se diz por aqui no meu bairro: “sair na mão com você”, por acabar com as minhas certezas e observações em relação aos poetas contemporâneos, pois achava que a procura deles pela poesia estava em querer ser o próximo Drummond, ou o próximo Bilac, e não pela poesia. Não, você peitou o meu Bilac, referência de poesia. Eu estava completamente errado, mesmo acreditando ter algum argumento ainda.

Você encobriu as minhas cores e estou atônito. Não se faz isso com ninguém, moço! Muito menos com a minha ingenuidade de palavras doces, que tenta agora, como dor que se cala, achar alguma explicação para o que me aconteceu, desde que eu me aventurei na fantasia de uma fábula, que inicia o seu livro e sob algum pretexto, ainda me evoca a comentar.

Você é um deselegante. Seu livro é tudo que um livro de poesia precisa ser e vai além, porque ele é cativante, desafiador; ao mesmo tempo em que é evasivo, é objetivo; ao mesmo tempo em que busca a estética e a simetria, é cortante. Você é um atrevido, Emmanuel, porque, com todo respeito — e olha que li atentamente cada poesia —, inclusive o prefácio que me aludia ao que vinha de tão diabólico, em cada ato, em cada imagem construída; quero dizer que minhas palavras estão pruridas e ainda me causa comichão voltar pelo caminho de seus poemas. O seu trabalho com a escrita tem cheiro de sangue quente, tem gosto de veneno misturado à bebida nobre, escondendo-o; de dizer sem mesura, sem meias palavras, sem medo de expressar-se pelo receio do que podem pensar sobre o livro; de buscar o formal do dizer, mas sem ser aquele texto certinho, aquela poesia que diz coisas bonitinhas, não! É muito superior e sem comparações, como naquele soneto que termina o livro, tentando me convencer de que não havia um assunto a ser tratado.

Você me aturdiu, me machucou; vou contar o que você me fez, vou espalhar a fama do seu livro, pois quero que todos saibam o que você me fez e como o fez; quero acabar com a reputação da poesia romântica, dos sonetos de amor; quero deixar a bailarina caída na rua e fazer de cada impressão minha sobre o livro, algo a ser desnudado pela forma como me convidava a enxergar as plumas do seu Bizarro.

Vou contar como ele é. Não vou ser piedoso com nenhuma cor apresentada. Vou contar a fama do seu Pavão e aquilo que me tomou os dias e me tirou do meu último sonho, na última noite, e me fez adiar a conclusão e publicação de resenha sobre o livro que eu falaria, para se colocar à frente e abrir-se pungente, voluntarioso e sem chance alguma para mim, um simples leitor e resenhista. Por último e depois do seu Bizarro, quero dizer que não vim aqui pedir a sua permissão para resenhar sobre o seu livro, apenas estou lhe comunicando de que o farei. Aguarde a minha próxima resenha, não será uma ameaça à poesia-clichê, mas uma constatação de como se escreve um livro de poesia!

Josué Souza, julho de 2014.

Informações do autor:
Josué Souza é escritor, autor de As cores do ser: Eu-Livro.

Leia resenhas de Josué no site Da Literatura.

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